domingo, 26 de junho de 2011

Campinas Poesia e Verso


Autor: Marcos Henrique
Curso de Mestrado de Educação Social.
Unisal  Americana 2011



CAMPINAS, CIDADE FEITA DE POESIA E VERSO



Um choro rompeu a parede.
Um sinal de esperança anunciou que uma vida nasceu!
As andorinhas no telhado da Maternidade
Voavam, indo e vindo, e até parecia que queriam ficar,
Mas foram comemorar a criança que acabara de deixar o útero da mãe.


Com um levante de asas, partiram em direção ao quartel.
Revoaram sobre os guerreiros soldados e cadetes,
E, com o bater das asas, aplaudiram a força maior da nação.
Belogue, Bil, Escola de Cadetes, festejem, eis mais um filho da terra!
Eis um reforço chegando, um herói em prontidão!


Um bebê, uma criança, um jovem e, por fim, um homem de braço forte e varonil.
Precisa de saúde, respeito, alimentação, lazer e educação.
Campinas precisa formar bons cidadãos!
Assim voam e passeiam pelos ares, as andorinhas,
Vestindo o céu de fantasias.


Com vôo rasante e ziguezagueando pelo céu azul,
Um turbilhão de batidas de asas risca o vento.
A aurora diz que o dia vem raiando,
E, o pôr do sol, que a noite está chegando.
E, o revoar das andorinhas cruza e descruza,
Corta o vento, se confunde e se perde.


Um frescor, um sorriso, um momento disperso.
O pequeno instante é levado pela força do vento.
Vento que passeia com as nuvens
Que desenham cenários com infinitos formatos.


Uma nuvem baixa acabou de passar.
Quem sabe veio me observar?
Outra distante passa por cima do monte.
Viçosa, possui cores em tons de vermelho, vinho e cinza.
Cinza, cor do progresso,
Da indústria, do automóvel, da fábrica.



Mas, quem liga para o desenvolvimento, para o progresso?
Serão os homens, serão as plantas, ou quem sabe o cachorro?
Vejo um vira-lata, parece despreocupado, ladrilhando pelas ruas,
E marcando seu território!
A doméstica o afasta: ‘passa Totó, vai urinar em outro lugar.’
E, amedrontado, o cachorro dispensado, percorre pelo bairro de ruas com casas luxuosas,
Com grades e portões altos, demonstrando ser um local de alto padrão.


Percebe, então, que aquele lugar já não é mais seguro para ele.
Assim como para os moradores que vivem ali,
Que vivem aprisionados em seu luxo,
E que dormem cercados de cercas elétricas.
Talvez seja um povo bem sucedido,
Que mora, se agrupa e se instala próximo de outros iguais.
Que pensam iguais, que ganham e guardam o dinheiro.
Este, visto pelos bens materiais,
Por isolarem-se em condomínios de mansões.


Eis ali uma andorinha sentada num brinquedo de um parque.
Ele é completo!
Tem ali escorregador, balança, túnel e outras atrações,
Mas, está vazio, não tem ninguém, nem um grito de criança.
Inesperadamente, voou a andorinha, e se perdeu no ar.
Sumiu entre as figueiras, pinho e chapéu de palha.
Sua revoada foi baixa, na direção de um riacho.


O riacho foi o local em que o vira-lata, já esquecido do susto,
Parou para tomar água. Um riacho já sem vida,
Mas, que continua firme em seu trajeto
Talvez para dizer que já tivera águas cristalinas.
Mas, com o progresso, com o crescimento e o desenvolvimento da cidade, 
Suas águas tornaram-se turvas, impuras,
Carregando em seu leito, fezes, lixo e germes.


Por instinto, o cachorro parou ali.
Por instinto, percebeu que ali era para ter água potável,
Cheia de vida, peixes, sapos, cobras e patos do mato.
Agora, nem árvores à sua margem e nem sapos.
Um plástico enroscado no fundo do leito acena pedindo socorro!
Um caco de vidro reflete seu brilho camuflado pela água cinza


Não seria um bom destino ficar por ali, tantas coisas ruins aconteceram...
Com passos curtos e cabisbaixo, o vira-lata recomeçou a sua jornada.
Uma estrada o conduzia. A mesma estrada que chega à cidade,
Que liga as ruas dos bairros, onde trafegam carros e pessoas.
Que leva ao Viracopos, ninho de aviões,
Aos esquecidos mortos do Cemitério da Saudade,
Ao bosque dos Jequitibás,
Ao parque da lagoa do Taquaral,
E ao Castelo, ponto cultural de Campinas.


Uma buzina estridente o chamou atenção.
Quem sabe estava preste a ser atropelado!
Essa buzina o fez perceber que, onde pisava era um asfalto,
O mesmo que não permitia a chuva penetrar no solo.
E percebeu que muitos prédios, casas e construções também impediam.
Essas construções asseguravam o calor do sol que o castigava.
Ele queria a sombra viçosa de uma árvore do campo!

Campo de Campinas que se transformou em uma metrópole,
Com creches, escolas, colégios, universidades, lojas e shoppings.


Mas, de que vale o progresso de uma metrópole sem a paz,
Sem a sombra, sem o descanso da natureza?


E, por falar em natureza, um forte vento sacudiu as copas das árvores
Redemoinho se formou, levantando poeira, sacolas e papeis.
Uma chuva chegou repentina,
Seus primeiros pingos evaporaram, foram sugados pelo solo quente.
Outras companheiras que caiam do céu vieram acudi-la,
E foram milhares e tantas que até perdi a conta.
As árvores das matas Santa Elisa e Santa Genebra,
Confortavelmente se refrescam,
Pela umidade de suas folhas, seus troncos, seus frutos e flores.


Com a chuva, os guarda-chuvas se abriram, janelas se fecharam,
Carros acenderam as luzes, retrovisores acenaram.


O vira-lata buscou um refúgio,
Foi se alojar debaixo de um banco de um ponto de ônibus.
Encolheu se todo, abriu uma pequena fresta nos olhos,
Viu a chuva festejando, a correnteza se formando.
A água transparente que vinha do céu ganhava cor,
As multicores eram formadas pelo barro vermelho do barranco,
Pelo preto do asfalto e branco do cal da construção.


Vários trilhos de água nascem,
E, escorrem pelo chão como serpentes.


As serpentes sabem onde se encontrar,
Vão sem dúvidas para o riacho,
Que mostra toda a sua vivacidade, sua força, seu poder de destruição.


O volume do rio é crescente,
A força da água varre tudo que encontra:
Uma ponte, um barranco, uma pequena muda de pau Brasil,
Barro, sujeira e lixo,
Lá vai, lá vão.


O cachorro sabia onde tudo iria chegar,
Sim... próximo à casa de seu dono,
Que nesta altura já se pegava em oração, reza e prece,
Para que seu humilde barraco não seja visitado pelo rio,
Que estava emendando o vilarejo.


Abandonar o barraco seria a melhor coisa a se fazer.
Abandonar algo que se tem, mas no barraco não tem nada.
Tem sim, o básico para a sobrevivência.
Cama, fogão geladeira e armário.
Espaço não tem, é por isso que as ruas os becos e viela vivem cheia:
Cachorro, gatos, galinhas, meninos e meninas,
As pracinhas, os campinhos vivem lotados,
Lá sim, têm mais pessoas que brinquedos,
Até as árvores servem de diversão,
Ah... quanta vida!


Neste refugio de excluídos,
O dia e as noites diferenciam-se pela presença do sol e da lua.
O brilho das estrelas é forte como o brilho de esperança dos moradores dali.


A chuva passou, deixou sua marca, uma mensagem para o progresso.
Quem sabe os homens percebam ou, talvez, na outra chuva eles acordem.
Pois ainda estão preocupados em reparar os danos e perdas.
Quem sabe na próxima chuva...


No céu voam ligeiras as andorinhas.
Em festas mergulham e apanham mariposas que cada vez mais são raras.
Sendo assim, um cardápio especial.
Após as refeições vão passear pela cidade,
Que antes era um jardim, um campo.
Mapeiam Campinas, igrejas, ferrovias e construções.
Reúnem-se em um jacarandá pertencente a uma praça,
Praça aonde as pessoas vão e vêm,
Muitas despercebidas com tudo e com todos.
Talvez seja por causa do progresso da cidade grande, da Metrópole.
Elas andam correndo atrás de seus afazeres,
E, nem percebem a presença das andorinhas, que a copiam,
E não entendem o porquê da existência da praça,
O porquê do tombamento de um lugar público.


A andorinha do alto do jacarandá observa o andar, os passos das pessoas.
Passos largos, curtos, rápidos e lentos,
Todos indo sempre para um destino,
Sim, para seus compromissos, e talvez consiga resolvê-los,
Ou não, mas é certo que o tempo é cada vez mais curto,
Em uma cidade metrópole onde o relógio corre contra o tempo.


Alguém veio ziguezagueando, pisando nas poças, sorrindo, cantando,
E, com sua tralha, encostou-se na árvore.
Avistou o pássaro João de Barro retocando seu ninho,
Sorriu... achou legal.
Viu parada, uma estatueta de Carlos Gomes,
Mas o que interessa um poeta, um músico, um artista?


Campinas terra de Carlos Gomes,
Carlos Gomes terra de Campinas.


Talvez, quando Carlos Gomes estava vivo a praça tinha sentido,
O revoar das andorinhas pela aurora o inspirava,
As idas e vindas das andorinhas davam uma linda melodia,
A liberdade do vira-lata poderia levá-lo ao infinito,
O aviso da locomotiva seria uma nota musical.


Mas ele está ali, firme forte e rígido,
Uma estatueta de um herói dos brasileiros,
Um orgulho dos Campineiros.


Campinas terra de Carlos Gomes,
Carlos Gomes terra de Campinas.


Na praça, o jacarandá e o patrimônio cultural de Campinas...


As andorinhas partiram em nova revoada,
Voaram sobre as catedrais, os barracões, os solares, os prédios e as vilas.
Viram muita gente...
Algumas mulheres malfeitoras, presas na cadeia de São Bernardo,
Outras pessoas em centros acadêmicos, preocupadas com as provas e trabalhos Universitários,
Sobrevoaram os templos, sinagogas e terreiros e avistaram católicos, cristãos, evangélicos, budistas, espíritas e o povo do orixás,
Viram atletas correndo, crianças brincando, mulheres trabalhando e os idosos contemplando a experiência vivida.
Avistaram os pontos culturais e assistiram as manifestações populares,
 O Jongo, o Maracatu, o Caxambu e a Capoeira.
 De tanto revoar sobre Campinas,
As andorinhas fadigadas buscam um descanso.


Mas aonde as andorinhas vão repousar?
Já não é mais nas tocas de morro,
Mas, sim, em fendas e beirais das casas e dos prédios.


Nasci em Campinas, cidade pacata, acolhedora.
Meus primeiros dentes eu joguei no telhado de casa,
E o passarinho iria achá-lo e levá-lo para o céu,
Porque outro dente iria nascer...
Hoje, já não vejo passarinhos como antigamente,
Sábia, Tiziu, Curió, Pintassilgo e Sanhaço,
Esses voaram, se foram para quem acredita em um final feliz.
Apareceram outros pardais e pombas,
Uma aparição de uma coruja, quem sabe veio observar as mudanças,
O progresso, da cidade, da metrópole.


Não escuto o canto das andorinhas.
Será que elas não cantam, ou elas somente piam.
Uma cidade onde o seu símbolo é a andorinha quem saberá me responder?
Para quem irei perguntar?
Para o empresário que voa de avião,
Para o policial que prende o ladrão,
Quem sabe o professor que educa e ensina a lição?

Não, não, não... Já sei, vou atrás do cão.
Quem sabe o vira-lata tem solução!

Sei que o lugar onde vive é na periferia,
Lá a pobreza se transforma em alegria,
Lá a estrada asfaltada não chegou,
Lá não tem parede de pedra e cimento,
Os barracos mesmo que sejam antigos
Não são tombados e nem patrimônios públicos.
As moradias, os esconderijos e os abrigos, muitos não têm janelas,
Talvez elas não tenham sentido, se as pessoas ficam ao relento.

Neste lugar, a natureza é mais presente,
As crianças andam descalças,
As casas são de madeiras,
As ruas e trilhas são de terra,
Os corredores e vielas levam nomes de guetos.
O cachorro deve saber sim...
Ele anda com seu dono, vagueia os bairros, nos parques e jardins.
É um intruso, mas vai atrás de seu dono, quem sabe para protegê-lo.
Ou talvez sinta fome.

A fome do vira-lata o leva para longe...
As fazendas de Sousa, as chácaras de Barão Geraldo, aos terrenos Joaquim Egidio e Nova Aparecida.
Para quem duvida, ele já chegou ao bairro, onde o dinheiro,
É capaz de comprar o carinho, o prazer e amor.
Ê para quem diz, não precisar de afeto,
Itatinga é o lugar certo!
Meretrizes, homossexuais, bebidas, drogas e prostituição,
Lá o pecado capital,
É algo normal...

Seus instintos de lobo do mato dos seus ancestrais, o leva à mata urbana.
Esta não é receptiva. Ela possui grades, cercas e guardas florestais.
E...Frustrado! Fica à margem do alambrado, que abraça protegendo a mata.
Angustiado bebe de uma poça que surgiu com o escorrer da água da torneira.
Esta água, sim, é potável, já tratada com todos os elementos químicos, que mata os germes e micróbios e a essência da água natural.
É o progresso da cidade e da metrópole!

Metrópole, nome bonito do desenvolvimento.
Prédios, hospitais, universidades, cidade Judiciária, viadutos, túnel, bibliotecas e cinemas,
Metrópole porque é viva diariamente, do raiar ao pôr do sol,
Metrópole porque as pessoas valem o que têm e demonstram o que são,
Campinas cidade metropolitana com 120 anos,
Cidade das indústrias e do progresso,
Povoada por homens, mulheres, crianças, jovens e adultos,
Estudantes, trabalhadores, esportistas, aposentados e milhares de outros,
Campinas que não é mais rural...
Hoje barulhenta, pelo transito e pelas construções de casas, ruas, prédios e edifícios,
Com iluminação de suas praças, jardins, ruas e avenidas,
Segura pela presença de Policiais e proteção da Guarda Municipal,
Campinas que cuida dos seus enfermos nos hospitais da Unicamp, Ouro Verde e Mario Gatt,
Que comunica com o Brasil e o mundo,
Campinas que restaura seus bosques e matas e do trata de suas águas,
Que possui terminais metropolitanos,
Que acompanham o crescimento e desenvolvimento,
Campinas acolhedora do progresso dos Campineiros,
Que da abrigo aos seus ilustres moradores...


Sim... A andorinha e o cachorro se abrigam!
O cachorro no conforto do barraco e a andorinha na toca às margens do riacho.